domingo, 24 de maio de 2009

HISTÓRICO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO

O acompanhamento terapêutico (AT) teve seu surgimento estreitamente vinculado aos movimentos de desinstitucionalização que se propagavam em todo o mundo a partir da década de 60. Durante muito tempo, os portadores de doença mental foram mantidos isolados do convívio social, assim como outras pessoas que não eram consideradas produtivas, tais como prostitutas, mendigos, portadores de doenças venéreas, portadores de tuberculose, etc. Existiam espaços de internação, localizados a longa distância dos grandes centros, que eram utilizados para “isolar” estas pessoas que formavam a classe de excluídos da sociedade. (Foucalt,1993, Palombini, 2004).

Com o objetivo de reintegrar o doente mental ao convívio em sociedade e de humanizar o tratamento dos mesmos, iniciou-se uma gradual redução dos manicômios na Europa Ocidental e nos EUA. A partir daí, buscou-se uma alternativa aos tratamentos convencionais, sendo bastante difundido o modelo de comunidade terapêutica. Nesta nova etapa, as atividades eram realizadas priorizando a coletividade e a convivência em família como importantes fatores de melhora. Essa era uma maneira inovadora de tratamento aos portadores de transtornos psiquiátricos, somente viabilizada por uma equipe multiprofissional que se mantinha em atividade 24 horas por dia (Piccinini, 2006).

É neste contexto que tem início a prática do AT, embora ainda não com esta denominação e com uma configuração diferente da atual. O primeiro profissional a trabalhar com o que hoje chamamos de AT foi o médico e especialista em psiquiatria Eduardo Kalina, na Argentina. Ele tinha um jovem paciente usuário de álcool que necessitava de alguém que o auxiliasse em sua saída da instituição, na qual mantinha um vínculo simbiótico com outros pacientes adictos. Formou-se, assim, uma equipe de abordagem múltipla que se propunha a atender estes pacientes severamente perturbados, que já tinham se submetido a uma série de tratamentos anteriores sem sucesso, sob o nome de “amigo qualificado”. Neste momento, o vínculo com o paciente era amistoso e com um certo caráter assistencialista e a tarefa do profissional era basicamente de acompanhar o paciente, sendo desaconselhável o uso de qualquer técnica interpretativa (Cabral, 2005).

No Brasil, a Clínica Pinel foi uma das pioneiras a adotar o modelo das comunidades terapêuticas norte-americanas. Nesta instituição, desenvolvia-se a atividade de AT sob a denominação de “atendente grude” e, posteriormente, “auxiliar psiquiátrico”. O objetivo principal atribuído a este profissional era controlar o doente para que ele não atentasse contra a sua vida nem colocasse a vida de outros em risco. No entanto, quando o atendente passou a ser visto como um possível agente de intervenção pôde funcionar como ego auxiliar, ou seja, houve um redimensionamento da função A proposta de sair à rua com os pacientes, na época inovadora, enfrentou enormes barreiras até se firmar como uma modalidade possível de intervenção junto à doença mental, passando a ser chamada posteriormente de acompanhamento terapêutico.

Referências

Cabral, K. V. (2005). Contextualizando o Surgimento do Acompanhamento Terapêutico. In: Acompanhamento Terapêutico como Dispositivo da Reforma Psiquiátrica: Considerações sobre o Setting. Dissertação de Mestrado em Psicologia Social e Institucional. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Foucalt, M. 1993. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva.

Palombini, A. (org). 2004. Acompanhamento Terapêutico na Rede Pública: a clínica em movimento. Porto Alegre: UFRGS.

Piccinini, W. J. (2006). História da Psiquiatria: O Acompanhante Terapêutico. Jornal de Psiquiatria: Porto Alegre.

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